CONTOS
DA BEIRA DO RIO AMAZONAS
Por > Neca Machado
(Administradora Geral, Artista Plástica, Bacharel em Direito Ambiental,
Especialista em Educação Profissional, Escritora de Mitos da Amazônia,
Pesquisadora da Cultura Tucuju, Contista, Cronista, Poetisa, Licenciada Plena
em Pedagogia, Jornalista, Blogueira com 21 blogs na web, Quituteira,
·
A
CANOA DOURADA
Deitado
no chão de Paxiuba envernizado com resinas da floresta, sentindo o vento no
rosto que vinha da Beira do Rio, depois de um belo jantar com Tamuatá cozido no
Tucupi, parece que o cheiro do Pitiú não ia embora, mas, ainda ficava no canto
da Boca um gosto de pimenta Malagueta do caldo de limão com Chicória e Alfavaca
do farto pirão de farinha d’água.
“O
Caboco tava numa Tiriça só.” (Preguiça)
Sem
pressa, sem medo, com a felicidade que tinha pedido a Deus.
Debaixo
do jirau volta e meia o pé da frente da casa de um esteiro de Maçaranduba
secular servia de parada para um cardume de carás. E ele fitava os olhos no
horizonte esperando as estrelas para soltar seus sonhos, tinha muitos.
Foi
quando avistou ao longe o vulto de uma Canoa que se aproximava sem levantar
suspeita, os remos batiam na agua devagar como sonorizados por uma orquestra de
sapos e os raios dourados da Lua refletiam imagens que só ele sabia contar.
Parece que seus lábios sorriam sem definição, o coração apertou, batia sem
compasso, e ele ficou excitado.
E ele
ainda lembrando da noite do acontecimento me relatou:
“Eu
pensei que fosse Compadre Bené, que sempre depois do Jantar vinha para contar
Potocas...
Tentei
levantar do chão, mas parece que minhas pernas tremiam, nem senti.
Foi
como se alguém tivesse me levantado do chão e me colocado naquela Canoa
Maldita.
Ela
brilhava tanto, que pensei que fosse de ouro,
Já na Canoa Dourada seus olhos serrados não
viam mais o luar, sentia que via estrelas sem céu, o corpo doía tanto que nem
podia se mexer, a cabeça parece que levou uma pancada tão forte que ainda tinha
resquícios de um Galo.
Nos
dedos ele ainda sentia as marcas do Ouro que foi embora, disse que arranhou
tanto com as unhas o brilho da Canoa de Ouro que os dedos parecem que ficaram
desmentidos.
Acordou
com um caldo de pirão, um abano de palhas ainda flutuava sobre seus olhos, respirou
um chumaço de algodão embebido em cachaça e a voz parecia tão longe dos filhos
que o acordavam daquele pesadelo, deitado na velha rede colorida na sala da
casa de beira de rio, sem entender o que se passou, pedaços de lembranças
apareciam e iam como se o vento fosse uma Pororoca.
Amigos
sobre ele diziam e faziam suposições:
Parece
estória de Mãe de Rio,
Outro
dizia: talvez fosse a comida que não foi bem digerida,
Um
Pajé apareceu e sorriu!
(A
Amazônia é assim cheia de encantos de Beira de Rio, cheia de estórias que são
repassadas de geração a geração, cheia de medos e assombrações, cheia de
encantamentos de deuses da Floresta...)