SINOPSE
MEMÓRIAS DE PUTAS VELHAS
(By: Neca Machado)
“Um dia ao escutar uma estória triste
de uma Velha Prostituta”, refleti
sobre suas dores e seus desamores, e decidi que UM DIA colocaria emoção nas suas paixões em forma de poesia, e
durante quase trinta anos como jornalista Colaboradora, o tema não me saiu da
memória, e quase na porta dos sessenta
anos, resolvi deixar as futuras gerações, muitas delas de Prostitutas modernas, estórias antigas
de sonhos que não se tornaram realidade, de projetos de enriquecimento através
da venda de seus corpos que as destruíram, tanto fisicamente como mentalmente.”
Memórias de Putas Velhas, é
uma coletânea de lagrimas, e de dores, feridas que nunca cicatrizaram, na alma
e na derme. Uma reflexão para Mulheres que poderiam ter outras opções, mas
escolheram um falso amor, porque muitas na prostituição também se apaixonam por
seus clientes, e não são correspondidas.
Estórias
de dependência química do falso amor, e das drogas licitas e ilícitas.
Relatos
de aprisionamentos, violências físicas e mentais, torturas e assassinatos,
fantasias assustadoras da natureza desumana, numa essência poética de fácil
linguagem, minha característica literária.
Um leitor de minhas crônicas
como jornalista, me disse um dia que minha escrita era pura emoção.
Concordei!
05
MEMÓRIAS DE PUTAS VELHAS- LEMBRANÇAS AMARGAS
O VESTIDO DE LUREX
Década de setenta, como que saída de
um musical.
Parece que em sua cabeça à música de “dancing
days” ecoava, e ela nem tinha visto um musical, só tinha visto alguns capítulos
de uma novela, onde a memória ainda relutante tentava trazer à tona imagens
saudosistas, vistas em uma porcaria de tevê que precisava apanhar para mostras
as imagens, e olha que ela acabou muito bom bril para colocar na ponta da
antena para ver melhor.
Pela
primeira vez que ela escutou canções internacionais, viajou, criou em sua mente
um mundo só seu, rodopiava em seus saltos altos feito uma gazela, vestida com
suas meias douradas em sandálias vermelhas, no meio de uma pista de discoteca
barata nos cafundós do Juda, ela foi ao céu.
E
olha que já se vão meio século!
Mas, o tal VESTIDO DE
LUREX, ela jamais esqueceu.
Uma
vizinha que tinha ido fazer ponto em Caiena, a motivou a ir com ela, fantasiou
o outro lado do rio Oiapoque, que ela quase morreu do coração, a mulher contou
tanta mentira que ela quase
acreditou.
Disse
que as crioulas não economizavam, que quando não queriam mais seus objetos,
jogavam NOVOS nos lixeiros, e era só ir lá pegar, tinha de tudo, cama, até
sapato...
E
que os homens gostavam de brasileiras, porque eram mais carinhosas, e que
pagavam muito bem em franco, e ela se entusiasmou, ainda tinha um corpo bom
como disse a falsa amiga da onça.
Mas
que era preciso andar bem vestida.
E
a tal informou que tinham aberto uma nova boutique lá pelas bandas do centro
comercial e que os novos modelos vindos da Europa eram vendidos bem baratinho.
E ela meteu o martelo num pobre porquinho que guardava alguns trocados para
comprar o TAL VESTIDO DE LUREX.
E quando chegou em frente da
Loja, viajou mais uma vez.
Lá
estava seu objeto de desejo, o tal vestido dourado de malha, com fios de ouro,
meio matizado, que se ajustava no corpo direitinho disse a vendedora, querendo
logo empurrar a tal preciosidade.
E
ela comprou!
E
em casa foi vestir o tal VESTIDO DE
LUREX, para experimentar, porque ia usar em terras europeias quando
atravessasse de catraia o rio Oiapoque.
E
junto com o vestido, veio um sapato de salto alto, dourado, cheio de fivelas,
que ela nem conseguia fechar, e nem sabia andar, e agora?
Tinha
que treinar disse a falsa amiga, outra disse: mas, esse sapato e de caboca, e
riu.
O vestido ela colocou,
ficou apertado, aparecia a barriga, ela tinha gordura por todo lado, ele subia
rápido, aparecia as calcinhas, e ela disse: quando eu for dançar vou ficar
nua.....
Foi
uma tarde de risadas, e de projetos para Caiena, onde iam dançar num Cabaré de
um chinês.
E
ela preocupada com o vestido, perguntava a amiga, e agora?
E
a outra, não te preocupa, MANA te vira, de noite os velhos porres, só olham o
dourado do vestido, nem vão perceber teu corpo.
E
o sapato, nem sei andar, questionou, e ainda tinha as pernas tortas.
Eu
heim!
Mas
o tal VESTIDO DE LUREX FEZ EM CAIENA O
MAIOR SUCESSO.
06
MEMÓRIAS DE PUTAS VELHAS
CONFISSÕES DE PUTAS VELHAS- LEMBRANÇAS AMARGAS
“A COLCHA DE CHENILE”
Significado de
Chenile
Substantivo feminino:Fio fofo de lã, algodão, seda ou raiom, com fibras salientes ao
redor.Tecido feito com esse fio, usado para colchas, cortinas e tapetes. Etimologia (origem da
palavra chenile).
Do francês chenille.
Quando
ELA ( ) envelheceu, foi que percebeu que
tinha milhares de LEMBRANÇAS, e
muitas delas, somente AMARGAS.
E
entre um sorriso ligeiramente amarelo com falhas nos dentes, foi que percebeu
que tinha sido enganada por um velho “Marreteiro”
da qual ELA era cliente décadas.
Numa
Kombi velha com um microfone fanhoso, ele aparecia nas baixadas da velha
Macapá, vendendo de TUDO, e ELA (
) lembra como se fosse hoje, sua primeira compra foi um jogo de panelas,
que lhe trouxe muita indignação, quando colocou no fogo, uma das alças caiu, e
prometeu que assim que ele aparecesse, iria reclamar que o produto não
prestava, e ELA, nem sabia ainda da
febre que viria no futuro dos tais descartáveis da China. (rs...)
Depois
se tornou uma cliente fiel.
Ela também tinha seus CLIENTES de fora (Caiena) que lhe pagavam em franco.
Consumista
como dizia uma falsa amiga, ELA
comprava de tudo no Marreteiro, tudo era novidade para uma CABOCA pobre que nunca tinha estudado, mas que agora já podia até
pensar “numa motinha”, num fusca, ou até numa velha Kombi para fazer frete para
os quitandeiros do Igarapé das
Mulheres, sonhava, e sonhava alto.
Tinha
visto numa revista jogada no lixo uma bela COLCHA
DE CHENILE, gostou do nome, CHENILE,
nem sabia o que era, mas gostou do nome, conversando com a falsa amiga de
“ponto” disse que quando arranjasse um marido ia colocar no filho o nome de CHENILE (rs...)
E eu, sorri (gosto muito de escutar estórias)
E aí, lembrei de uma frase de minha Mãe (Dona
Izabel) que dizia: que todos os nomes têm
algum significado, e tinha.
E ELA
( ) continuou.
Vou
comprar uma COLCHA DE CHENILE, era seu pensamento diário.
Já se imaginava deitada numa COLCHA DE CHENILE, cheia de bordados
com fios de ouro, pensava até no travesseiro também.
Disse alto, talvez falando sozinha: meus clientes vão amar minha colcha de
chenile.
E não via a hora do tal Marreteiro aparecer.
Esperou ansiosa por ele,
Um belo dia lá vem ele de novo com o tal
microfone fanhoso, ELA correu feito
doida, trouxe logo o cartão do Marreteiro, e antes que ele anunciasse as tais
novidades trazidas da França (rs...). Ela logo se antecipou.
QUERO
UMA COLCHA DE CHENILE.
O Homem arregalou os olhos, levantou a tampa
do bagajeiro e puxou um pacotão de lençóis coloridos.
E ELA
nem pestanejou.
Só queria saber o preço e em quantas
prestações ia pagar.
Teria que aturar muito CLIENTE DE CAIENA para pagar a tal preciosidade, mas valeria a
pena, segundo ELA.
E nem
lavou. (CRUZ CREDO)
Colocou logo para experimentar na velha cama.
E aí, sua imaginação foi a LUA.
Nem conseguiu dormir direito.
No primeiro cliente a COLCHA de CHENILE, foi um sucesso.
Na semana seguinte, ela começou a perceber
que tinha umas bolhas nas pernas, depois começaram a crescer,
E ELA coitada,
tinha que procurar o DENERU (rs...) achava que tava com alguma doença braba.
Nos dias seguintes a tal colcha foi um
martírio.
Deu uma coceira tão forte que ela repetia as
falsas amigas: acho que tenho CURUBA BRABA.
E tudo
foi por causa de uma tal COLCHA DE CHENILE FALSA.
Que de Chenile não tinha nada, repetia
revoltada.
E agora depois de mais de 50 anos, as
lembranças amargas, são somente parte de seu passado, e ela agora sonha ser
enterrada com lençóis de seda.