A
PUTA QUE QUERIA SER GUEIXA
Quando
ELA ( ) atravessou o Oceano Atlântico, fazendo
pontes entre os Continentes, acreditou que realmente seu sonho tinha se tornado
realidade.
Com
olhos orientais, vivia dizendo para todo mundo que sua família tinha vindo do
Japão depois da guerra, que sua avó Tomiko era realmente japonesa, que tinha
morado em um bairro japonês cheio de “Gueixas” e nas noites de trovoadas na
Amazonia, com o barulho dos raios nas paredes de madeira, para espantar o medo
ela lhe contava estórias de Gueixas, foi assim que ELA decidiu seu futuro. “Acabou
num Puteiro em Caiena na Guiana Francesa.”
Baixinha,
olhos de japonesa, ninguém nem sabe sua origem, se realmente suas estórias eram
verdadeiras, muitas diziam que ela tinha nascido na “Baixada do Japonês” no
bairro do Igarapé das Mulheres, no coração da cidade de Macapá, estado do
Amapá.
Mas
seu sonho, esse sim, era real, gostava dos clientes chineses, eles não eram
“avantajados” como os crioulos, nem lhe “arrebentavam” depois do trabalho
feito.
Apelidaram na de GUEIXA.
ELA
tinha orgulho do adjetivo.
Gostava
de fazer massagens nos clientes, gostava de se ajoelhar aos seus pés, sonhava
em ter um quimono colorido, pintado a mão por um artista famoso, talvez nem
soubesse o sabor do saquê, mas sabia dizer em japonês, arigatô.
Dizia
as amigas mais chegadas, que realmente tinha nascido para ser uma Gueixa, que
sua mãe lhe tinha vendido quando criança, que trabalhou numa casa de chá, que
limpava o chão com vassouras feitas a mão e que a “Mãe” a mulher que era
cafetina tinha lhe feito um leilão para perder sua virgindade.
Talvez
suas estórias fossem verdadeiras, talvez! Mas, sua vida era de mentiras,
humilhações e muitos sofrimentos.
Mas
seu sonho de ser Gueixa, nunca morreu. Aprendeu a observar as letras
chinesas nos letreiros em Caiena na Guiana Francesa, começou a comprar revistas
japonesas de segunda mão, dizia que a avó era muito rígida e não lhe ensinou o japonês,
começou a investir em relacionamentos com orientais, talvez para observar seus
costumes.
E
começou a adquirir hábitos de verdadeiras mulheres orientais.
Gostava
dos tamancos de madeira, aprendeu a andar com elegância, começou a estudar
informações sobre gueixas, já sabia o que era uma “Okiya” (lugar onde viviam as
Gueixas). Quanto mais se embrenhava nos costumes orientais, se fascinava
literalmente. Começou a dar maior atenção aos clientes japoneses, e na cama
feito uma “Gueixa” fake, ela descobria mais informações e crescia culturalmente;
um dia lhe disseram que uma japonesa queria vender um quimono original, e ela
tinha suas economias, correu para descobrir o endereço, e não é que conseguiu o
tão almejado presente dos sonhos, e nem era Natal.
Vestida
com o quimono que deu tanto trabalho se sentia a própria flor de cerejeira.
Já
era chamada de Gueixa, e agora vestida com o tal quimono que algumas invejosas
do puteiro diziam que era de uma japonesa morta, ela nem queria saber, começou
a cobrar mais caro na prostituição.
Conversando
com um cliente japonês ele lhe falou de um tal dana, que era uma espécie
de amante, e ela começou a dizer as companheiras de puteiro que tinha um Dana
rico, que lhe ia tirar daquela vida de inferno.
A
Gueixa Cabocla foi se especializando na cerimonia do chá, nos rituais e no
atendimento aos clientes orientais, fazia suas vontades, massagens, as vezes
somente escutava problemas, noutras tentava acalmá-los.
Mas,
seu sonho mesmo era um dia ir ao Japão.
Sonhava
acordada com as florações das cerejeiras, com as roupas típicas, com as danças,
com as cidades, com as casas de chás...
E
como o “universo conspira a seu favor, quando o pensamento é positivo” um belo
dia, recebeu um convite de um empresário japonês para lhe fazer companhia até
Paris. Como foi mais que uma Gueixa na viagem, ele realmente tornou se seu
Dana. E chegar ao Japão foi ganhar no euro milhão, ela se ajoelhou ao primeiro
templo que encontrou pelo caminho, acendeu suas velas no quarto do hotel, rezou
para todos os santos, jogou flores ao mar, fez promessas, e prometeu nunca mais
voltar para o Igarapé das Mulheres onde realmente tinha nascido.
Agora
uma Puta que envelheceu, sorri de seu destino, não tem uma casa de chá,
mas tem um café na Europa.