segunda-feira, 27 de agosto de 2018

GUESTPOST

Prefácio


Quando iniciei os trabalhos de pesquisa para este livro, a ideia era focar única e exclusivamente na questão da Grande Muralha Verde que está sendo erguida no Sahel1, ao Sul do Deserto do Saara.

Porém, com o avançar da pesquisa, descobri ser impossível ficar restrito a um tema único sendo que esse tema afetava e repercutia em todas as outras variáveis afetas à vida na terra. 

Como ficar restrito ao Saara, com tantos outros desertos pelo mundo? Como não falar do deserto de Gobi e do projeto chinês para reflorestar 40% de seu território?

Como não falar da desertificação em diversas partes do planeta, com tanta terra fértil sendo “arenizada” e comprometendo a produção agrícola?

Não poderia ficar restrito a um tema somente, por mais importante que fosse, tanto pelos seus efeitos diretos, quanto pelos efeitos paralelos e outros assemelhados,
                                                 1 O Sahel é uma faixa de terra entre o deserto do Saara e as regiões de florestas, que se estende desde o Senegal, no Oceano Atlântico, até o Djibuti, do “outro” lado da África, no Oceano Índico. São mais de seis mil quilômetros de terra árida ou semiárida, por quinhentos a setecentos quilômetros de largura. A vegetação é rasteira, típica das estepes, com ausência de árvores e precipitação pluviométrica muito baixa, menos de 300 mm de chuva por ano.  
8

que existem e acontecem ao redor do mundo. Como não falar do Overshoot day2, ou o dia do “tiro no pé”?

Assim foi que me veio à cabeça o acontecido com o pássaro Dodô, nas Ilhas Maurício, com o Mar de Aral, na Rússia e, ao mesmo tempo, com a Mata Atlântica no Brasil; com o Pico do Cauê e o poeta Drummond de Andrade; com o que está acontecendo com o bioma do cerrado e o desastre de Mariana, em Minas Gerais. 

Como uma coisa puxa a outra, não poderia deixar de falar de Malthus e da superpopulação, da poluição dos rios e dos lixões que estão se formando nos oceanos, colocando em risco a fauna e a flora de todo o mundo.

Por falar em fauna e flora, como não falar da redução da produção agrícola em função da extinção das abelhas? Os inseticidas, largamente utilizados na agricultura, matam os insetos perniciosos e matam, também, as abelhas, que são responsáveis pela polinização, que fertiliza as flores. 

Esse tema, abelhas, veio à tona após uma palestra, em Moçambique, quando um senhor chamado José Alcobia, especialista em agricultura e abelhas, me interpelou dizendo:

- E as abelhas? O senhor não falou a respeito do fim das abelhas! As abelhas estão sumindo do mundo, e sem abelhas não há agricultura!

                                                 2 Overshoot day ou O tiro no pé – Veja último capítulo
9

Fica aqui o alerta do senhor José Alcobia, hoje um grande amigo d´além mar; que o fim das abelhas pode, também, ser o fim da agricultura tal qual a conhecemos.

A ideia deste livro surgiu em função de duas tempestades que presenciei na África: uma de areia e a outra, mais impressionante ainda, de gafanhotos3.

E, para terminar, pedi ao amigo ecossociólogo, Eugênio Giovenardi, que nos falasse da interação homem / natureza. Ele fez melhor que isso; mapeou o passado, o presente e o futuro dessa relação ou equação que não fecha: terra, água, natureza, homem, consumo.

As conclusões não são nada animadoras. Eu diria até, que são estarrecedoras. 

Há pessoas que vêm em denúncias, como as aqui apresentadas, como “maus presságios” ou “coisas agourentas”. Há outras pessoas que vêm “no conhecimento do problema” a fórmula para resolvê-lo. É para essas pessoas que este livro é destinado. Pessoas que sabem ou que visualizam os problemas, e buscam soluções para resolvê-los.

Sou um otimista por excelência. Mesmo com as duras posições colocadas aqui, ao longo de todo o livro, nada
                                                 3 Estávamos fazendo um pouso na Ilha do Sal, no arquipélago de  Cabo Verde, quando atravessamos uma nuvem. Não era uma nuvem qualquer: era uma nuvem de gafanhotos. Me lembrei das sete pragas do Egito.
10

afeta meu bom humor nem minha crença no planeta Terra. E, como bem disse Albert Einstein: “Minha condição humana me fascina. Conheço os limites de minha existência e ignoro porque estou na terra, mas as vezes pressinto”.  

Sentir ou pressentir, para mim, é mais do que necessito para que a condição humana, com todas suas qualidades e defeitos, me fascine.

Aproveito a oportunidade e deixo aqui uma canção exaltando as belas coisas do Planeta Terra. 

Se você está lendo esse livro em formato eletrônico, click no link abaixo.
 https://www.youtube.com/watch?v=D67lR7Qy_wk 
 Se voce está lendo o livro impresso, utilize o QR code de seu telefone para ouvir essa bela canção. 



Em ambos os casos, ouça e dê uma chance ao mundo.  Com certeza  “o amanhã” poderá  ser melhor, muito melhor do que “o hoje”.
11

Considerações (ou divagações) sobre os desertos e a ação do homem sobre a natureza.

Se hoje sou deserto é que eu não sabia Que as flores com o tempo Perdem a força e a ventania, Vem mais forte.
Raimundo Fagner – (Cantor / compositor)

Deserto, conceitualmente, é um lugar físico ou imaginário, quente ou frio onde, para os humanos a adaptação é difícil ou quase impossível. Porém, para outros animais, vertebrados ou não, como cobras, lagartos e escorpiões, é o habitat natural. “Melhor lugar não poderia haver”.
Hoje vamos falar desse tema curioso, árido, seco, inóspito, onde poucos humanos resistem, e que, em nossa imaginação é um local com tudo isso e, não raro, ou constantemente, assolado pelos ventos, cujos grãos “pinicam” nossa pele, quando caminhamos sobre a areia.
Os desertos não são somente terrenos arenosos. Há também os desertos gelados como a Patagônia, na Argentina, o deserto da Groelândia e os grandes desertos das regiões polares. Há, ainda, os desertos de sal, como o Salar de Uyuni, na Bolívia, com mais de
12

dez mil quilômetros quadrados, de puro sal. Outra característica curiosa desse deserto é sua altitude, 3.650 metros acima do nível do mar. Na mesma região se apresenta, também, o deserto do Atacama, no Chile, com mais de 100 mil quilômetros quadrados, é considerado o deserto mais seco do mundo, competindo, nesse aspecto, com o Deserto do Kalahari, na África.
Frios, quentes, insossos ou salgados, os desertos são inóspitos e, via de regra, nada produzem. 
Os desertos “não nasceram prontos”; eles vão se formando, tanto pela ação do homem quanto por ações ou modificações da própria natureza.
Quanto à ação da natureza, pouco ou nada podemos fazer. Fenômenos como a última grande glaciação, que congelou mais da metade do planeta, ocorrida entre 10 e 20 mil anos atrás, são fenômenos impossíveis de serem contidos ou evitados. Esse fenômeno criou as condições para que o Deserto do Saara se formasse (ou secasse), sem nenhuma interferência humana.
Algumas ações sobre a natureza ou sobre algum elemento específico da natureza, são próprias da atividade humana, na busca pela sobrevivência, para o acúmulo de riquezas ou para a chamada “segurança alimentar”.
Um exemplo bem típico dessas ações foi o que aconteceu nas Ilhas Maurício, na costa africana.