sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

CRONICAS DA NECA MACHADO - LIVRO DIGITAL JÁ NA WEB


O TAXISTA E A PROSTITUTA


Na Parada de taxi em frente ao Mercado Central, ela bate no vidro do primeiro carro da fila, ele abre e ela pergunta, onde fica o Banco? 
E ele sem titubear com sua voz mansa e pausada, ar gentil e delicado, cabelos grisalhos, lembrando um belo avô à espera do abraço dos netos, responde: logo ali,
Você pode ir de pés, mas, eu terei o maior prazer em leva-la.
E ela se rende a sua educação nobre.
Entra faceira no taxi, e se imagina como uma verdadeira Dama, sem ser da noite porque era dia.
E a conversa inicia;
Ela diz a ele, você existe?
E ele ligeiro, sim, sou de carne e osso.
E ela de novo: não acredito, um Homem tão doce, tão gentil, tão amável nos dias de hoje... tão, tão....
E a conversa continua até a porta do banco.
Ela quer pagar,
 e ele: não quer receber,
Diz entre sorrisos: vou lhe esperar.
E ela surpresa, diz, mas, vou demorar, preciso fazer uma operação aqui.
E ele repete: vou lhe esperar, pode ir.
E ela de novo, mas, você não precisa trabalhar? Se esperar vou ter que pagar muito caro, 
E ele insiste, vá, vou lhe esperar.
Ela sorri, nunca ninguém a tinha tratado assim, feito uma verdadeira Dama, sem ser da noite.
Teve centenas de clientes, muitos nem conseguia lembrar do rosto, eram apenas parte de sua rotina, noutros ainda conservava alguns traços de gentileza, noutros tinha apenas revolta das atitudes, mas, era para ela, apenas um negócio que não merecia ficar na memória.
No banco demorou, pegou sua senha e pensou, vou demorar, é melhor avisar a ele.
E ao lado do carro, lhe disse entre sussurros, vou demorar.
E ele: já disse, vou espera-la.
E ela, apreensiva, com medo, mas, cautelosa, lembrou do ar generoso, de seus cabelos grisalhos, de sua voz mansa, sorriu entre dentes, e pensou, ele é diferente.
No banco terminou o que tinha vindo fazer.
Entrou no carro e disse, vou lhe pagar um café,
E ele: onde vamos Madame?
E ela só queria olhar o Rio Amazonas.
E ele mudou sua rotina, ela só queria caminhar na orla do rio, jogar algumas pedras no rio, fitar o São José da Pedra do Guindaste, talvez fazer uma promessa ou talvez um pedido de encontrar um verdadeiro amor.
E ele com sua voz mansa, a fitava e repetia, você é bonita!
E desceram do taxi para ver o rio.
Ele a tocou na mão e ela não fugiu.
E ele repetia, para onde vamos?
E foi aí, que ela entendeu: 
Ele só a queria para mais uma noite de prazer, porque já estava escurecendo.
E como ele tinha perdido a tarde a esperando, ela tinha que retribuir.
Disse com um sorriso amarelo: vá a um motel,

E ele disse: Não tenho dinheiro para pagar algumas horas, porque não rodei.
E Ela, tão esperta, tão vivida na noite, “caiu na conversa do Taxista” que só queria uma noite de prazer.
E percebeu que sua docilidade era apenas uma estratégia, os dois eram iguais.
Quantas vezes ela teve que fingir prazer?
E ele a tinha superado.
Mas, os dois na essência eram absolutamente iguais!
E na cama ele nem foi gentil!
Nem a satisfez,
Teve outros melhores.
Nem lhe disse poesias
E nem lhe deixou uma Rosa.