quinta-feira, 27 de agosto de 2015

REPRODUÇÃO (JORNALISTA EUCLIDES MORAES)

O jornalista Emanoel Reis lamenta a decisão do político amapaense ao processá-lo por danos morais

Reportagem: Euclides Moraes

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) está processando o portal FOLHA DO ESTADO, dirigido pelo jornalista Emanoel Reis, 54 anos de idade, 33 de profissão, por “danos morais c/c com efeitos da tutela antecipada” resultantes, segundo afirma por meio de sua assessoria jurídica em Macapá (AP), de matérias veiculadas em julho passado com os títulos “Assiduidade de senadores do Amapá é questionada em levantamento” e “Senadores do Amapá já acumulam no ano 10 faltas, diz levantamento”. Segundo o parlamentar, as duas postagens “são notícias falsas” porque afirmam que ele teria faltado a “dez sessões no Senado Federal” enquanto, conforme alega em juízo, teria faltado a somente uma sessão, no dia 25 de junho, “(...) em razão da visita do ministro da Cultura no Estado do Amapá”.
De acordo com o jornalista Emanoel Reis, o senador Randolfe Rodrigues está equivocado. “Jamais afirmei ter ele faltado a dez sessões”, assinala. Segundo Reis, os dois textos foram construídos com informações obtidas na reportagem de autoria da jornalista Sara Resende, elaborada com base em levantamento exclusivo realizado pelo prestigiadíssimo portal político Congresso em Foco (http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/as-faltas-dos-senadores-no-primeiro-semestre-de-2015/), e veiculados em julho de 2015. No gráfico que compõe a matéria jornalística, a soma das faltas dos três senadores do Amapá totalizam dez. João Capiberibe (PSB) aparece com duas faltas justificadas e duas injustificadas. Davi Alcolumbre (DEM) desponta com quatro faltas injustificadas. E Randolfe Rodrigues (PSOL) com uma falta justificada e uma falta injustificada.
“Creio que o senador mirou no alvo errado. Quem sabe por eu ser alvo fácil de ser atingido, o mais vulnerável. O galho fraco, digamos assim. Inclusive, vejo essa ação com muita estranheza. Principalmente porque o autor é um político da esquerda que eu admirava muito e em quem votei para o Senado nas eleições de 2010. No frigir dos ovos, o processado, nesta questão específica, deveria ser o Congresso em Foco e não eu”, comenta o jornalista. A ação de indenização por danos morais c/c com efeitos de tutela antecipada foi impetrada por Randolfe Rodrigues por meio de sua advogada, Cristiane Nunes da Silva, e começou a tramitar na 6ª Vara Cível e de Fazenda Pública de Macapá, sob a tutela do juiz Paulo César do Vale Madeira.
Emanoel Reis é natural de Belém do Pará, mas, há 15 anos reside no Estado do Amapá. No entanto, esta relação vem de outros tempos. “Na verdade, pisei pela primeira vez em terras tucujus no dia 24 de junho de 1980. Eu só tinha 20 anos. Viajei para o Território Federal do Amapá atrás de uma mulher. Minha primeira mulher. Foi uma viagem duríssima. Passei dois dias e duas noites a bordo do barco a motor 'São Benedito'. Mas valeu a pena”, recorda.
Como profissional, já trabalhou nos principais veículos de Comunicação do Norte e Nordeste, entre jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, e agências de publicidade. Atualmente, dirige uma pequena editora e agência de publicidade localizada no Centro de Macapá. “Passei quatro anos prestando serviço para o governo Camilo Capiberibe [PSB], editando o jornal FOLHA DO ESTADO. Era um semanário de 16 páginas, com capa e contracapa em policromia. Eu fazia tudo. Reportava, fotografava, escrevia, editava, diagramava e ainda distribuía nas bancas de revista e panificadoras. Em novembro, o próprio Camilo, por meio do Azolfo Gemaque [ex-secretário de Estado da Administração], determinou que o jornal fosse retirado de circulação. Então, parceiro, fiquei igual à música do Canastra, 'Ao Deus-dará'”.
Conforme o jornalista, Randolfe Rodrigues o constrangeu ao acusá-lo de falsear informações sem conceder-lhe nenhuma defesa. “O levantamento, exclusivo do Congresso em Foco, foi feito com base nos registros oficiais de frequência publicados pelo Diário do Senado, e revela quais foram os senadores que menos assinaram a lista de presença. Logo, que crime cometi ao reproduzir informações de domínio público?”
Para Emanoel Reis, Randolfe Rodrigues deixa entrever que o objetivo da ação é puni-lo com os rigores da lei para servir de exemplo caso outros jornalistas queiram criticá-lo. “Vejo dessa forma. Nem João Capiberibe ou Davi Alcolumbre foram, assim, tão implacáveis. Somente o psolista Rodrigues, justamente de quem jamais esperava medidas tão controversas”, assinala. Reis comenta, ainda, que o senador poderia ter usado seu legítimo direito de resposta em, sentindo-se ofendido, requisitar mesmo espaço no veículo em questão.
Ao contrário, tratou de processar o portal, avalizando penalidade duríssima para punir um desafeto que sequer existia. “Quando postei a primeira matéria (“Assiduidade de senadores do Amapá é questionada em levantamento”), recebi um telefonema do publicitário Sérgio Santos, assessor do senador João Capiberibe, questionando as informações contidas na postagem. Eu disse: Sérgio, eu apenas fiz um resumo do material publicado no Congresso em Foco, direcionando-o para o Amapá. Então, ele retrucou: Mas o senador não gostou da abordagem. O que digo a ele? Respondi: Tudo bem. Diga que vou retirar a postagem.”
Conforme havia acordado com o assessor, no dia seguinte Reis retirou o conteúdo do portal FOLHA DO ESTADO, substituindo-o por outra matéria política. Contudo, no dia seguinte, o Congresso em Foco voltou à carga, na ocasião divulgando as faltas de todos os senadores da República, dentre os quais Capiberibe, Alcolumbre e Rodrigues.”Considerei a informação relevante para os meus internautas e para o cidadão amapaense. Para mim, não interesse se um parlamentar falta ao trabalho uma ou cem vezes. Falta é falta. Se um simples trabalhador faltar ao serviço ele é advertido, punido com suspensão ou é demitido. Então, por que um parlamentar fica tão suscetível quando é cobrado? Afinal, nós pagamos o salário dele. Por outro lado, é verdade que todo político tem suas atividades extraparlamentares. Eu sei porque já trabalhei com vários deles. Mas, meu enfoque foi somente nas faltas contabilizadas pelo Congresso em Foco. Não tive a intenção de macular a imagem de ninguém”, ressalta.
No entender do jornalista, a ação judicial movida contra ele e contra o portal FOLHA DO ESTADO também atinge, mesmo que de forma indireta, a credibilidade do Congresso em Foco. “O senador afirma na peça processual que só faltou uma vez. Porém, as estatísticas do portal político, construídas com base nas informações do Diário do Senado, mostram que ele teve duas faltas, uma justificada e a outra injustificada. Ora, eu reputo o Congresso em Foco como um dos mais conceituados da área. Com elevado grau de credibilidade. Se o senador estiver certo, a credibilidade do Congresso em Foco cai por terra”, destaca.
Atualmente, Emanoel Reis, que também é designer gráfico e redator publicitário, vem desempenhando a função de corretor. “É uma espécie de prospecção de negócios. Eu saio às ruas para vender os meus serviços junto ás empresas de Macapá. Não tem sido fácil. A maioria está quebrada. É tanto empresário lamuriando que dá até pena. Então, meu amigo, é percebível que meu empreendimento não vai nada bem”. Diante do exposto, e das circunstâncias atuais adversas, como pretende se defender contra o processo de Randolfe Rodrigues? “Tenho 15 dias para conseguir um advogado. Então, 'como estou mais duro que beira de sino', vou recorrer à Defensoria Pública. Espero que dê c