sexta-feira, 8 de julho de 2016

JORNALISTA EUCLIDES MORAES DESCREVE O FILHO "DUDU" FALECIDO AOS 18 ANOS EM 2016

COM AFETO AO DUDU
(FILHO DO JORNALISTA EUCLIDES MORAES > RECÉM FALECIDO AOS 18 ANOS)
RECEBI COMO ALGO SINGULAR,
"mas meu querido Euclides Moraes me DESCULPE vou dividir com PAIS E MÃES COMO EU QUE AMO OS MEUS FILHOS."
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Neca Machado OS SAPATOS ROTOS DE EDUARDO MORAES
“ ...vc foi como um anjo que passou em nossas 
vidas trazendo felicidade e paz, e nos ensinou a 
viver com humildade e amor ao próximo, também 
ensinou que a vida não tem dificuldade....” 
Mensagem (ZAP) de Kilki Mateus para Eduardo no
dia que Dudu faleceu.

Eduardo (Dudu) Moraes, numa manhã fria de Curitiba partiu sem avisar, como era seu feitio. Ficamos todos tristes e inconsoláveis. Não estávamos sós. Mais de duzentas pessoas – jovens, crianças, idosos - compartilharam os nossos sentimentos, muitos pontuando as qualidades humanitárias de Eduardo. Curiosos abrimos a sua página no Face. Foi quando inusitadas revelações começaram a ser substituídas por surpresas e orgulho. Principalmente mensagens de jovens expressando agradecimentos e carinho, como a do Kilkk Mateus, que abre este texto, e tantas outras que revelavam amor, admiração e gratidão - como a de uma prima de um ex-colega do Eduardo, já falecido, agradecendo emocionada o apoio e a solidariedade do Eduardo à família durante a enfermidade do amigo . Lembramos que ele, por esse tempo, havia nos pedido, decidido e insistentemente, autorização para doar sua própria medula para salvar o colega que acabou não resistindo à enfermidade. Outra mensagem foi de uma amiga e confidente dele dizendo “ ...sinto a sua falta mas não estou triste porque agora você está no mundo que sempre imaginou” (?). 
APEGO AOS DESVALIDOS - Não há como esquecer outra circunstância do desprendimento solidário de Eduardo, registrado já aqui em Curitiba. Entrávamos na igreja do Largo da Ordem numa manhã de domingo quando percebi que Eduardo, certo momento, não nos seguia. Fui procurá-lo à porta da igreja e não acreditei no que via: Ele atravessava a rua no sentido da para a igreja carregando no colo um mendigo, deficiente físico, que tentava chegar às escadarias. Ante aos olhos espantados das pessoas ele cuidadosamente acomodou o mendigo à porta da igreja, seguindo- me depois para assistir à missa. À saída, o mendigo olhou para o Eduardo fazendo com do polegar aquele sinal de “ok”, como que dizendo “obrigado”. Eduardo então me pediu umas moedas, entregou-as ao mendigo apresentando-o com naturalidade à mãe dizendo “olhe mãe, este é o meu mais novo amigo”. Seguimos em frente quando a Graça, sua mãe, disse-lhe que a camisa dele estava cheirando a xixi (era do mendigo), Eduardo apenas sorriu com aquele saorriso enigmáticol.
VOCÊS NUNCA VÃO ME ENTENDER – Ainda quando estávamos em Macapá, descobrimos que, a partir de certo tempo, nosso filho começara a freqüentar lugares perigosos como a Praça da Bandeira e o Largo dos Inocentes, onde fazia amizades com grupos de jovens usuários de drogas. Isso nos causou muita preocupação. Claro, discutimos exaustivamente com ele sobre o assunto, cuja única resposta às nossas inquisições era sempre a mesma: “vocês não vão me entender nunca!”. Sempre com a voz mansa e doce. Aqui em Curitiba a história se repetiu.

OS SAPATOS ROTOS DE EDUARDO - Em Curitiba, onde já cursava o terceiro semestre em Direito, verificamos que seu único sapato estava em “petição de miséria” com enormes furos provocados pelo skate . O repreendemos e o intimamos a comprar imediatamente outro para ir à faculdade. Saiu e voltou pra casa com um rolo de fita plástica adesiva com a qual “consertou” o tal sapato, argumentando em resposta aos nossos protestos que a faculdade é lugar de juntar conhecimentos, não de desfile de moda. Mostrava-se revoltado com a violência, o Estado “permissivo” à corrupção, discriminação, e com o futuro da sua geração. O Estado está podre, dizia ele. Nos cursos médio e acadêmico, desde os 15 anos, dedicara-se preferencialmente à sociologia. Não tolerava “roupas de marca”, não se sentia atraído por festas nem shoppings e suas companhias eram os jovens mais vulneráveis socialmente. Tinha um par de sapatos apenas e quando convidado para compras, “renovar guarda-roupa”, se esquivava e filosofava “um par sapato me basta, só tenho dois pés e minhas roupas estão limpas, é tudo que preciso”. 

Foi depois das pesquisar as mensagens postadas após à sua partida, tanto as endereçadas a nós como à ele e as antigas do seu Zap, assinadas por pessoas que nem sequer conhecíamos, que começamos a questionar entre nós aquele seu “vocês nunca vão me entender”, ditas candidamente todas as vezes que o censurávamos . O que significavam aquelas mensagens dos jovens com quem se encontrava nas praças, agradecendo conselhos e ajuda? 
Quem era na verdade Eduardo Rodrigues de Moraes? 
Nunca saberemos.