quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A MORTE DO POÇO DO MATO DO BAIRRO DO LAGUINHO-AMAPÁ

"A MORTE DO POÇO DO MATO DO LAGUINHO"
UM DOS MAIS BELOS LAGOS URBANOS DE MACAPÁ-AMAPÁ
POR> NECA MACHADO.
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Neca Machado A MORTE DO POÇO DO MATO



Por > Neca Machado > amapaense nascida em 05.08.1961 no entorno do Poço do Mato
(Jornalista colaboradora com DRT-AP, Bacharel em Direito, Administradora, licenciada plena em Pedagogia, Artista Plastica, Escritora de Mitos, Especialista em Educação Profissional Integrada)

Minha Mãe Izabel Machado era uma Quituteira das melhores que conheci, desconhecia os conhecimentos científicos, mas, tinha uma percepção tão apurada nas ciências exatas que me comovia, sabia contar nos dedos os valores que vendia na Quitanda de Bananas e nas Merendas no antigo CCA e na frente dos Boêmios do Laguinho.

Meu nome NECA MACHADO surge dela me chamar de BONECA dos olhos de Mel, com o passar dos anos restou apenas NECA. E para homenageá-la assumi NECA MACHADO.
Nos fundos de nossa casa entrecortada por alguns quintais contíguos ela tinha um SITIO no entorno do Poço do Mato onde cultivava Cana, Jambu, Açaí e outras frutas que já não existem mais, e o LAGO era uma verdadeira sedução, tinha centenas de ANINGUEIRAS, agua cristalina, muitos peixes, cobras diversas e milhares de passarinhos, e muita magia envolvida em estórias de assombração, além de um longo cano de transporte de agua da companhia estatal que percorria o bairro do Laguinho até o Igarapé das Mulheres, ele ficava sobre as aguas e lembro que era muito alto, Moleques do Laguinho faziam festa para atravessa-lo, e Eu também no meio gostava daquela festa natural, costumava ir pescar na companhia da Socorro Gaia e morria de medo de cair na agua quando estava sobre o cano, diziam que tinha Mãe d’água e muito encantamento, além das sanguessugas que grudavam nas pernas tuiras.

O LAGO ERA LINDO.

EU HERDEI DE MINHA MÃE O SITIO e vim morar nele.

Hoje aos 54 anos me debruço sobre uma pequena sacada que fiz para chorar a MORTE DO POÇO DO MATO. Um lago que fez parte da história de muito amapaense.

Lembro de uma foto acervo pessoal da década de 70 onde as velhas e belas Aningueiras teimavam em se juntar como uma trincheira para proteger o Lago do Poço do Mato. Como sentinelas alguns açaizeiros esparsos serviam de vigilantes. 

Na metade da Avenida José Antônio Siqueira com a Rua São José as antigas casas de madeira com teto baixo e janelas pintadas de cal terminavam dentro do Lago, a visão de onde tínhamos o sitio era singular, eu sonhava em fazer canoas de Aningueiras para desbravar o Lago e buscar taperebás do outro lado no terreno da companhia de agua, e ainda trazer muitos carás para comer fritos.
Fui embora estudar em Belém-Pa e quando voltei o Lago começava a desaparecer, herdei o sitio onde moro hoje e fundei um Memorial para apenas relembrar fatos, dados, pessoas e acontecimentos, o amor pelo Lago do Poço do Mato foi tanto que voltei a academia para estudar Direito Ambiental e me tornei Bacharel em Direito. 

“Mas a dor que sinto hoje é tanta que chega a doer na alma”, vejo dezenas de telhados fincados no coração do Poço do Mato, não tem mais espaço para nada, perdi minha privacidade, casas e mais casas se juntam num aglomerado de palafitas sem norteamento dos órgãos que tinham a função de fiscalizar e se omitiram, eu sei como Bacharel em direito ambiental que é CRIME, mas, me sinto impotente, já clamei ao ministério público do estado do Amapá sua intervenção, e o atual Prefeito de Macapá através de minhas interferências JÁ ASSINOU UM TERMO DE COMPROMISSO para desocupar a avenida Mãe Luzia, mas, SE RECUSA A CUMPRIR.

VOU ter que pagar um advogado para entrar com uma ação de cumprimento de acordo, é inadmissível.
Não tenho mais referência musical, com a invasão de pessoas vindas de outros estados sou obrigada a escutar os seus gostos musicais, QUE NÃO SÃO OS MESMOS DO MEU.
Sem fossas moradores jogam seus dejetos na RUA, e o cheiro de fezes é insuportável.
São banheiros aéreos, são casas no meio da avenida em que moradores teimam em ser DONOS DE RUAS, querendo demarcação, garagem, calçadas, churrascos no meio da avenida, festas, gritarias, algazarras, perturbação do sossego diariamente, e muitos já foram indenizados, outros são especuladores.

INFELIZMENTE O POÇO DO MATO MORREU.

Havia um projeto audacioso para recuperar a área, mas, gestores, autoridades foram omissas em perpetuar essa bela história de um Lago glorioso cheio de encanto e magia.

A vida é assim, com seus ciclos, até um Lago morre.