sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

LIVRO DIGITAL DA NECA MACHADO JÁ NA WEB


LIVRO DIGITAL
CRONICAS DA NECA MACHADO
“MEMORIAS DE PUTAS VELHAS-LEMBRANÇAS AMARGAS”

(A PUTA E O BANHO DE TAMANQUARÉ) *

BIOGRAFIA

Neca Machado (Ativista Cultural, altruísta que preserva os sabores e saberes da Amazônia, através dos Mitos e Lendas da Beira do Rio Amazonas no extremo norte do Brasil, é, Administradora Geral, Artista Plástica, Bacharel em Direito Ambiental, Especialista em Educação Profissional, Escritora de Mitos da Amazônia, fotografa com mais de 100 mil fotografias diversas, premiada em 2016 com classificação na obra brasileira “Cidades em tons de Cinza”, Concurso Urbs,  classificada com publicação de um poema na obra Nacional, “Sarau Brasil”, Novos Poetas de 2016, Pesquisadora da Cultura Tucuju, Contista, Cronista, Poetisa, Coautora em 16 obras lançadas em Portugal em 2016, 2017, e uma em Genebra em 2018, em edição bilíngue português e inglês, Licenciada Plena em Pedagogia, Gastro-Foto-Jornalista, Blogueira com 25 blogs na web, 21 no Brasil e 04 em Portugal, Quituteira e designer em crochê.)




          No jirau da palafita fincada no meio da ressaca, ela se assustou com um pequeno “Calango” que atravessou entre suas pernas rapidamente feito um raio e se jogou na agua podre do lago que rodeava sua nova morada, e na cabeça, a lembrança apareceu como se ela tivesse seus dez anos de idade.
Ainda ecoava a velha cantiga da Avó indígena.

Tamanquaré, tamanquaré, faz o fulano ficar besta como tu é.”
Coloca ele na rede e dá Tamanquaré, ele vai ficar manso e lambe teu pé!

E ELA deu uma gargalhada tão sonora que atravessou gerações.

          ELA veio das entranhas da mata de uma ilha distante próxima do estado do Pará, chegou ao Amapá vinda em uma pequena embarcação, veio com tanto medo que nem viu o Rio Amazonas, deitada numa velha rede, se encolheu tanto que nem viu as horas passarem.
E lá estava ela agora na flor da idade!

A vizinha “desgraçada” como ela a chamou, no início era um doce de pessoa, mas depois, mostrou suas garras, repetiu, uma Cobra que infernizou minha vida. Me fez uma proposta num dia que sem esperança, ela fitava a Lua e sonhava com seu Príncipe encantado, mas, ao longo de suas rugas, o que mais encontrou, foram Sapos, e muitos deles venenosos.
A tal Cobra fantasiou tanto que ela quase foi a Marte.
Disse que com aquela beleza de Índia, cabelos longos feito seda, pernas grossas, os seios parecem que tinham sido moldados em ninho de beija flor, ELA seria a Mulher mais desejada de um Puteiro recém-inaugurado lá para as bandas do Rio Oiapoque.
Disse que ela ia ganhar tanto franco que nunca mais ia ser pobre, que ia tirar o pé da miséria, que ia morar num prédio “pertinho do Manoel Pinto em Belém do Pará” e que ia até do pátio ver o Círio de Nazaré.

TUDO MENTIRA- UMA VERDADEIRA ESTELIONATARIA.

Graças a Deus já morreu.

Ainda lembra do primeiro franco que ganhou, ficou besta, nunca tinha visto o tal dinheiro.
Nas idas e vindas do tal cabaré, conheceu um DOUTOR, homem nojento, cheio de arrogância, mal-educado, que logo se engraçou com ela, assim que chegava, vinha logo apontando o dedo, como se ela fosse seu brinquedo.

E ELA nascida no meio da floresta Amazônica, conhecia suas lendas, seus mitos e suas estórias, cresceu tomando banho de Igarapé, gostava de brincar com peixinhos, amava escutar o canto dos sabiás, muitas vezes se vestiu de flores de mato, gostava do perfume de patchuli, amava as frutas da terra, e gostava de pimenta, ela era do meio da Terra e conhecia seus segredos.
Um dia de São João, ela resolveu se vingar.
Ele chegou cedo, com a mesma arrogância de sempre, não era doce, mas gostava dela, tomava sempre um banho antes do ato sexual. E ELA naquela noite santa, encantada como incorporada por uma entidade sobrenatural, com a voz mansa feito cobra a dar o bote, falou baixinho no ouvido dele: “Doutor hoje é dia de São João, venha tomar um banho de ervas, elas servem para tirar a “inhaca”, o mal olhado, trazem fortuna.

E ELE: Besta caiu na conversa dela.
E ela com uma cuia nova, começou seu ritual.

Ele foi se amansando aos poucos, se aquietou, foi ficando PATETA, ABESTALHADO;
Tudo efeito de um BANHO DE TAMANQUARÉ.


PS

*TAMANQUARÉ tem em pó vendido nas casas de produtos para banhos, e tem também em ervas, a erva do Tamanquaré, que para muitas benzedeiras tem o mesmo efeito, amansar gente braba. ”