sexta-feira, 10 de junho de 2016

CONTOS DA NECA MACHADO


CONTOS DA BEIRA DO RIO AMAZONAS

Por > Neca Machado (Administradora Geral, Artista Plástica, Bacharel em Direito Ambiental, Especialista em Educação Profissional, Escritora de Mitos da Amazônia, Pesquisadora da Cultura Tucuju, Contista, Cronista, Poetisa, Licenciada Plena em Pedagogia, Jornalista, Blogueira com 21 blogs na web, Quituteira,


·        A CANOA DOURADA

Deitado no chão de Paxiuba envernizado com resinas da floresta, sentindo o vento no rosto que vinha da Beira do Rio, depois de um belo jantar com Tamuatá cozido no Tucupi, parece que o cheiro do Pitiú não ia embora, mas, ainda ficava no canto da Boca um gosto de pimenta Malagueta do caldo de limão com Chicória e Alfavaca do farto pirão de farinha d’água.

“O Caboco tava numa Tiriça só.” (Preguiça)

Sem pressa, sem medo, com a felicidade que tinha pedido a Deus.
Debaixo do jirau volta e meia o pé da frente da casa de um esteiro de Maçaranduba secular servia de parada para um cardume de carás. E ele fitava os olhos no horizonte esperando as estrelas para soltar seus sonhos, tinha muitos.

Foi quando avistou ao longe o vulto de uma Canoa que se aproximava sem levantar suspeita, os remos batiam na agua devagar como sonorizados por uma orquestra de sapos e os raios dourados da Lua refletiam imagens que só ele sabia contar. Parece que seus lábios sorriam sem definição, o coração apertou, batia sem compasso, e ele ficou excitado.
E ele ainda lembrando da noite do acontecimento me relatou:
“Eu pensei que fosse Compadre Bené, que sempre depois do Jantar vinha para contar Potocas...
Tentei levantar do chão, mas parece que minhas pernas tremiam, nem senti.
Foi como se alguém tivesse me levantado do chão e me colocado naquela Canoa Maldita.
Ela brilhava tanto, que pensei que fosse de ouro,

Já na Canoa Dourada seus olhos serrados não viam mais o luar, sentia que via estrelas sem céu, o corpo doía tanto que nem podia se mexer, a cabeça parece que levou uma pancada tão forte que ainda tinha resquícios de um Galo.
Nos dedos ele ainda sentia as marcas do Ouro que foi embora, disse que arranhou tanto com as unhas o brilho da Canoa de Ouro que os dedos parecem que ficaram desmentidos.
Acordou com um caldo de pirão, um abano de palhas ainda flutuava sobre seus olhos, respirou um chumaço de algodão embebido em cachaça e a voz parecia tão longe dos filhos que o acordavam daquele pesadelo, deitado na velha rede colorida na sala da casa de beira de rio, sem entender o que se passou, pedaços de lembranças apareciam e iam como se o vento fosse uma Pororoca.

Amigos sobre ele diziam e faziam suposições:
Parece estória de Mãe de Rio,
Outro dizia: talvez fosse a comida que não foi bem digerida,
Um Pajé apareceu e sorriu!

(A Amazônia é assim cheia de encantos de Beira de Rio, cheia de estórias que são repassadas de geração a geração, cheia de medos e assombrações, cheia de encantamentos de deuses da Floresta...)