sexta-feira, 23 de junho de 2017

CONTO - O RAIMUNDO QUE VIROU ALINE!

CRONICAS URBANAS
BIOGRAFIA

Neca Machado (Ativista Cultural, altruísta que preserva os sabores e saberes da Amazônia, através dos Mitos e Lendas da Beira do Rio Amazonas no extremo norte do Brasil, é, Administradora Geral, Artista Plástica, Bacharel em Direito Ambiental, Especialista em Educação Profissional, Escritora de Mitos da Amazônia, fotografa com mais de 100 mil fotografias diversas por 11 Países (Europa, Oceania, América do Sul) 2016, classificada  em 2016  na obra brasileira “Cidades em tons de Cinza”, Concurso Urbs,  classificada com publicação de um poema na obra Nacional, “Sarau Brasil”, Novos Poetas de 2016, Pesquisadora da Cultura Tucuju, Contista, Cronista, Poetisa, Coautora em 10 obras lançadas em Portugal em 2016 e 2017, Autora independente da Obra Mitos e Lendas da Amazônia, Estórias da Beira do Rio Amazonas, publicada em 02 edições em Portugal em 2017, edição limitada, Licenciada Plena em Pedagogia, Gastro-Foto-Jornalista, Blogueira com 25 blogs na web, 21 no Brasil e 04 em Portugal, Quituteira e designer em crochê.)



“O RAIMUNDO QUE VIROU ALINE...”




Sentada na sala de espera para uma consulta com o oncologista onde acompanho meu esposo, a atendente chama “Raimundo”, olho para o lado e só vejo uma jovem, e com a curiosidade que me é peculiar, pergunto; você é o Raimundo? E ela meio sem jeito sorri um riso amarelo e diz que sim, mas que gosta de ser chamada de ALINE.

Volto a sorrir e como bacharel em direito a oriento que deveria procurar o Ministério Público e utilizar seu nome como é conhecida, que lhe é um direito constitucional, porque ela já se transformou em Mulher, e ai a conversa continua.
Me diz que saiu do Amapá que foi para Paris que fez implantes em Roma, que casou com um francês que foi muito bonita….
 QUE, que...etc..

Escuto pensativa e pergunto, por que você está aqui?
 E ela de novo entre risos me diz que descobriu um câncer retal, que já sofreu muito que, não tem emprego, que vive só que o “marido” ainda lhe ajuda de “vez em quando” e que até recentemente veio ao Amapá lhe ver, e aí me mostra uma foto dele, e vejo um homem bonito.

E penso:



ALINE que foi RAIMUNDO se encantou com as luzes de Paris.
E penso:
deve ter ido pela Guiana francesa atravessado o rio de catraia e deve ter sonhado MUITO, quando se viu em uma cidade LUZ em todos os sentidos, lembro quando vi as vitrines na Alemanha fiquei encantada também, mas, sou “Pé no chão”, não fiquei vislumbrada porque sei onde piso e sei minhas limitações.
ALINE que já foi RAIMUNDO diz que fala francês que fez muito show em Paris, que tem papel de casamento, mas, que agora está de volta a sua terra para tratamento de um câncer que diz que ele já se foi, será? 
E penso:

Deve trazer na alma suas tristezas, seus dramas e suas lembranças.

Sentada ao lado também uma das mais expressivas representantes da luta pelo Câncer no Amapá a Professora Suzana Machado que não é minha irmã de sangue, mas é de coração como nós nos denominamos, e também escuta as “estórias” de ALINE que um dia foi RAIMUNDO.

Suzana a orienta a buscar benefícios sociais porque ALINE diz que não pode trabalhar, que se tornou incapaz, porque era cabelereira e agora sobrevive com uma pensão do INSS e as duas interagem em informações.

E EU volto a pensar na trajetória de ALINE que um dia foi RAIMUNDO, quanta tristeza em sua vida, quantas mudanças de planos que ela traçou e que ficaram pelo caminho, ela ainda mostra cicatrizes, diz que fez implante em todo o corpo que era uma bela Mulher em Paris  (   ) e diz que tem fotos, não as vi, mas tinha interesse em ver.

ALINE é o exemplo de um sonho destruído por um CANCER RETAL, e de muitos desejos os quais agora só na memória e no fundo das lembranças. Me pergunto quantos homens amaram ALINE, (  ) para quantos ela talvez tenha cantado a canção de Christopher 


Aline
Christophe

J'avais dessiné
 sur le sable

Son doux visage
 qui me souriait

Puis il a plu
 sur cette plage

Dans cet orage,
 elle a disparu

Et j'ai crié, crié, Aline, pour qu'elle revienne

Et j'ai pleuré, pleuré, oh! j'avais trop de peine

Je me suis assis
 près de son âme

Mais la belle dame
 s'était enfuie

Je l'ai cherchée
 sans plus y croire

Et sans un espoir,
 pour me guider

Et j'ai crié, crié,
 Aline, pour qu'elle revienne

Et j'ai pleuré, pleuré,
 oh! j'avais trop de peine


O médico chega, a atendente me chama e deixo ALINE que um dia foi RAIMUNDO.




 Mas, não a esqueci, aqui uma homenagem a ela, que servirá de exemplo para MUITOS outros RAIMUNDO, JOÃO, ANTONIOS, E MARIAS..., que deixam o Amapá   e muitas cidades dos interiores do Brasil e do mundo, para sonhar em Paris, e outras cidades da Europa, e que muitas vezes voltam sem terem realizados seus sonhos, onde o regresso é amargo e sem LUZ, e muitas vezes apenas à espera da MORTE, contaminadas por dezenas de doenças venéreas e mortais, como ALINE, com câncer e sem esperança.