CONTOS
DA NECA MACHADO
Publiquei centenas de
CONTOS que foram releituras de estórias contadas a mim, por verdadeiros
PIONEIROS DO AMAPÁ, que poderiam ser publicadas para que as futuras gerações
conhecessem a nossa VERDADEIRA ESTORIA, CONTOS E CAUSOS POPULARES, mas, infelizmente
só consegui com RECURSOS PROPRIOS publicar apenas um ENSAIO com 10 contos, ninguém
da área da cultura amapaense teve interesse.
Dia de Monteiro
Lobato não precisamos ficar reproduzindo suas estórias infantis, AQUI NO AMAPÁ,
temos tantas historias, belas, traduzindo a verdadeira CARA DA CULTURA TUCUJU.
OS ENCANTOS DO POÇO DO MATO
A lata de
manteiga bem ariada, é instrumento de trabalho de Nega Piedade, rebolando as
cadeiras ela desce preguiçosa e com ares de princesa de ébano as ladeiras que
circundam o entorno do POÇO DO MATO, cantarola sem letra uma canção
indecifrável aos ouvidos dos mortais.
Ela retira com
cuidado os cipós que atrapalham seu caminho e segue sorrateira como uma cobra a
dar o bote. No lado esquerdo um pedaço de pano no ombro, puído pelo tempo e no
braço direito a famosa lata de manteiga que serviria para levar o liquido
precioso para os patrões degustarem após a ceia matinal e para ajudar nos
afazeres domésticos.
Negra Piedade
brilha na sua cor lustrada pelos raios dourados do sol que banham aquela manhã,
e ela num misto de magia faz parte de uma aquarela. O POÇO DO MATO tornou-se
inatingível, distante, e a negra no viço da idade não percebe, o canto do
pássaro é sua companhia, e a caminhada é longa, ela levanta a blusa, mostra
seus seios rijos ao sol e enxuga o suor da testa.
Ao abrir os
olhos o POÇO DO MATO surge como por encanto a sua frente e suas águas jorram
como faíscas prateadas lavando o céu.
Piedade é só
alegria, suas companheiras não apareceram e ela agradece por não ter que
dividir espaço com ninguém em busca da água. A negra furtiva e exausta da
caminhada observa se alguém se aproxima, seu suor é forte nas entranhas, seu
cabelo carapinha, e os calos nos pés são esquecidos por um momento e ela se
entrega aos sonhos, sentada ao redor do POÇO DO MATO encantado, dos Campos do
Laguinho.
O Moço branco
de camisa engomada, perfume francês estende-lhe suas mãos, e Piedade não recusa
seu convite, levanta assanhada, arruma os cabelos, ensaia seu sorriso mais
branco, balança as cadeiras, empina os seios num frenesi e exclama: sou toda
sua Sinhô!
O moço ergue-a
do solo, levita com ela naquele cenário e Piedade emudece, os pássaros
continuam a cantar, as arvores deslizam suavemente ao balançar do vento e a
brisa que sopra não a desperta de seu sonho irreal.
O POÇO DO MATO
é a única testemunha da Negra Piedade e cúmplice em seu prazer carnal. As horas
são intermináveis e preocupam os seus patrões, seus conhecidos e os vizinhos da
negra Piedade.
Escurece, a
Rasga Mortalha solta seu grito ensurdecedor, o céu tem muitas estrelas, o vento
é frio e o Poço do Mato assustador, negra Piedade não voltou, os moleques
correm com lamparinas pelo mato, cachorros servem de companhia a procura
de negra Piedade, e nem sinal dela. A noticia se espalhou, o seu sumiço é
comentado em todas as esquinas, e em todos os bairros, a população que mora na
Favela e no Elesbão ficam estarrecidos.
As lavadeiras
e as carregadeiras de água junto com as moças virgens são proibidas de irem ao
Poço do Mato sozinhas.
Por que?
Negra Piedade
foi ENCANTADA no Poço do Mato dos Campos do Laguinho.
“Olha sinhô,
Olha sinhô
No poço do Mato
Essa Negra se encantou…”