4ª OBRA COLETIVA DE NECA MACHADO EM PORTUGAL
CONTO
A LUA
ME CEGOU!
CONTOS
DA BEIRA DO RIO AMAZONAS
Por > Neca Machado
(Administradora Geral, Artista Plástica, Bacharel em Direito Ambiental,
Especialista em Educação Profissional, Escritora de Mitos da Amazônia, fotografa
com mais de 100 mil fotografias diversas, Pesquisadora da Cultura Tucuju,
Contista, Cronista, Poetisa, Licenciada Plena em Pedagogia, Jornalista,
Blogueira com 21 blogs na web, Quituteira.
A
velha rua da Praia acordou com os gritos assustados de alguém que perambulava
sem rumo, gritando em uma voz cheia de medo: “A Lua me cegou, a lua me cegou, a
lua me cegou...”
Maltrapilho,
descalço e parece CEGO.
Foi
assim que o delegado de polícia da capital o encontrou, foi chamado por
moradores que assustados pareciam petrificados sem entender a situação. O
delegado abriu os olhos do coitado, e sem explicação nenhuma, dizia que não
tinha nada ali, deve ser um “cisco” que caiu no teu olho, repetia. E o pobre
Homem continua a gritar: “foi a lua, foi a lua, foi a lua…”
Foi
levado num camburão da polícia para o Hospital geral que era o mais próximo da
rua da praia. E por orientação medica foi mandado para o departamento de
psiquiatria.
No
outro dia, parentes avisados o procuram por lá, ainda estava cego.
A Mãe
repetia que ele “era bom”, não tinha problemas nos olhos, que enxergava tudo,
que andava sozinho por Macapá, que gostava dos puteiros e do quebra mar.
Mas,
enfim, ele estava cego!
A
cegueira repentina para ele tinha uma causa: “Foi a Lua”
Ainda
meio tonto dos remédios que lhe deram, ele tentava lembrar de alguma coisa.
Disse
que estava na frente do Mercado Central, que pegou um carreto de bananas e foi
deixar na quitanda da Mulher, que nem sabia o nome, e que ela tinha lhe dado
uns trocados, e que feliz foi tomar umas no boteco da esquina com uma morena
que acabara de chegar no Igarapé das Mulheres e agora fazia “ponto” por ali...
Depois
foram passear no trapiche, que naquela noite tinha uma bela LUA.
Ainda
tentou fazer uma poesia, mas não era letrado.
De mãos
dadas correram os dois pela Pedra do Guindaste, sempre fitando a Lua, redonda
feita uma peteca azul dizia ele.
Parece
que era meia noite.
E aí,
foi quando lembrou que não enxergava mais.
A
última visão foi a LUA. Cheia de gente, cheia de mistérios, cheia de desejos
inimagináveis...
E
agora ele CEGO.
Os
anos se passaram e ele continua a repetir, muitas vezes agora com uma velha
bengala de companhia “FOI A LUA, foi a
lua, foi a Lua...”
Foi
culpa da LUA.
A LUA ME CEGOU!
(Para muitos Pajés da floresta Amazônica
a LUA e cheia de mistérios, encantos e enigmas. Cuidado, a LUA também deixa
marcas…)